Nossa evolução histórica conta com importantes Revoluções Industriais. A primeira ocorreu na Inglaterra, entre o final do século XVIII e início do século XIX, na sequência contando com o ingresso de outros países, como França, Estados Unidos, Rússia, Bélgica, Holanda, Alemanha. Esta Revolução propôs uma reviravolta no setor produtivo e de transportes: fora descoberta a utilização do carvão como fonte de energia e, a partir daí, desenvolvida simultaneamente a máquina de vapor e a locomotiva. Estas descobertas foram cruciais para viabilizar tanto o transporte de matérias primas e mercadorias, como ainda, o de pessoas, vindo a trazer uma alternativa completamente nova para a locomoção.
A Segunda Revolução Industrial teve início ainda no século XIX, na segunda metade, vindo a terminar durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Envolveu uma série de desenvolvimentos dentro da indústria química, elétrica, petrolífera e de aço. Uma das invenções mais importantes foi a prensa móvel movida a vapor, que já tinha sido inventada décadas antes da Revolução. Ela permitiu a invenção da máquina de fazer papel no começo do século XIX, e através da Segunda Revolução Industrial, introduziu composição tipográfica através da madeira (o que antes era suportado por algodão e linho).
Vale salientar que a Grã-Bretanha, em meados de 1870, revogou impostos sobre o papel, o que encorajou o crescimento do jornalismo técnico e periódicos, tendo em vista o menor custeio de produção, o que culminou com esta difusão de conhecimento.
Outro ponto bastante importante desta Revolução foi o crescimento das máquinas operatrizes, ou seja, de máquinas empregadas na fabricação de peças e componentes de diversos materiais metálicos, plásticos, madeira e etc., que utilizados para o uso em outras máquinas. Seria o surgimento da linha de produção para a fabricação de produtos de consumo.
Por fim, citamos o desenvolvimento do motor de combustão interna. Ou seja, enquanto a Primeira Revolução Industrial se baseou em ferro e carvão, na Segunda, temos o surgimento de um novo combustível que mudaria o mundo, o petróleo. Por consequência, a população passou a migrar do campo para as cidades, considerando a abundância da oferta de mão-de-obra como resultado de todas estas invenções.
A Terceira Revolução Industrial, por sua vez, também chamada de Revolução Informacional. Teve início em meados do século XX, trazendo um panorama completamente modernizado para a indústria. Cita-se o uso de tecnologia e sistema informático na produção industrial, desenvolvimento da robótica, engenharia genética, biotecnologia, utilização de várias fontes de energia, terceirização da economia, dentre várias outras.
É neste período que estamos atualmente, entretanto, uma vez que a evolução tecnológica se mostra constante, e cada vez mais célere, aproximamo-nos da Quarta Revolução Industrial. Chamada de Indústria 4.0, esta Revolução denota o envolvimento do mundo físico, digital e biológico, através de um conjunto de tecnologias. Sua premissa básica é que, ao conectar máquinas, sistemas e ativos, as empresas poderão criar redes inteligentes ao longo de toda cadeia de valor, vindo a controlar os módulos de produção de forma autônoma. Isso significa que uma automação inteligente poderia não apenas prever falhas nos seus processos de produção, como ainda, teria a capacidade de se adaptar aos padrões, efetuando inclusive mudanças e ajustes não planejados em sua produção.
O termo ora utilizado se originou de um projeto de estratégias do governo alemão voltadas à tecnologia, usado pela primeira vez na Feira de Hannover em 2011. Em 2013, na mesma feira, foi publicado um trabalho final sobre o desenvolvimento da Indústria 4.0. São seis os princípios para seu desenvolvimento e implantação:
1) Capacidade de operação em tempo real: tratamento de dados de maneira praticamente simultânea, o que viabilizaria a tomada de decisões em tempo real;
2) Virtualização: propõe uma cópia virtual das plantas inteligentes, que permitiria a rastreabilidade e monitoramento de todos os processos das fábricas inteligentes;
3) Descentralização: as máquinas poderão fornecer informações sobre seu ciclo de trabalho, de maneira a trabalhar de forma descentralizada, aprimorando seus processos de produção;
4) Orientação a serviços: utilização de arquiteturas de software orientadas a serviços;
5) Modularidade: conexão por módulos na produção, o que confere flexibilidade para alterar as rotinas das máquinas.
As principais tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital e biológico são a Manufatura Aditiva (3D), a Inteligência Artificial (IA), a Internet das Coisas (IoT), a Biologia Sintética (SynBio) e os Sistemas Ciber Físicos (CPS).
Quando analisamos o posicionamento do Brasil frente à evolução tecnológica, não podemos deixar de observar que se trata de um grande desafio. A indústria, hoje, representa algo em torno de 10% do nosso PIB. Este índice, que chegou a atingir mais de 20% em meados da década de 1980, reduziu-se significativamente para próximo de 11%, fruto de mudanças na estrutura produtiva do país e dos novos modelos de negócios trazidos pelo cenário tecnológico.
Participação do setor de transformação industrial no PIB (%) 1985 -2016
Em se tratando do Índice Global de Inovação, não obstante que o Brasil represente um terço do PIB da América Latina, sendo uma das 10 maiores economias do mundo, fato é que ocupa tão somente o 69º lugar no ranking, ficando atrás de outros países da América Latina como Chile (46º), Costa Rica (53º), México (58º), Panamá (63º), Colômbia (65º) e Uruguai (67º).
Este índice avalia performance de diferentes países no quesito inovação, como crescimento da produtividade, investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), educação, exportações de produtos de alta tecnologia, dentre outros. Entre 2016 e 2017, houve uma pequena melhora no ranking de eficiência da inovação, quando o Brasil passou da 100ª posição para a 99ª, mas perdeu posições no ranking de renda média - passou de 17º para 18º.
O Relatório Readiness for the Future of Production Report 2018[1], publicado pela World Economic Forum (WEF), traz o Brasil na 41ª posição em termo da estrutura de produção e na 47ª posição nos vetores de produção da indústria:
Se por um lado o país tem enfrentado adversidades no tocante à evolução tecnológica quando comparado aos demais, fato é que a Indústria 4.0 representa grande oportunidade de crescimento, haja vista o gráfico acima. Possuímos bastante potencial para melhoria de nossa posição nesta nova economia, que propõe maior eficiência, redução de custos e, ainda, redução no consumo de energia.
Uma iniciativa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e do Governo Federal, com apoio da FGV Projetos, traz a Agenda Brasileira para a Indústria 4.0, com bastantes informações sobre o tema, visando inclusive a fomentar iniciativas que viabilizem esta transformação digital.
Conhecer a evolução tecnológica mundialmente proposta, bem como, entender o posicionamento brasileiro no cenário atual, permitirá o estabelecimento de estratégias claras e bem delineadas para aprimorar o nosso progresso. Assim, o Brasil poderá competir em igualdade de condições, tanto no mercado interno, como no mercado externo.
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