O conservadorismo é um pensamento político que
defende a manutenção das instituições sociais tradicionais – como a
família, a comunidade local e a religião -, além dos usos, costumes, tradições
e convenções. O conservadorismo enfatiza a continuidade e a estabilidade das
instituições, opondo-se a qualquer tipo de movimentos revolucionários e de
políticas progressistas. Mas é importante entender que o conservadorismo não é
um conjunto de ideias políticas definidas, pois os valores conservadores variam
enormemente de acordo com os lugares e com o tempo. Por exemplo, conservadores
chineses, indianos, russos, africanos, latino-americanos e europeus podem
defender conjuntos de ideias e valores bastante diferentes, mas que estão
sempre de acordo as tradições de suas respectivas sociedades.
CONSERVADORISMO X POSTURA CONSERVADORA: CONFUSÃO SEMÂNTICA
É importante não confundir o pensamento político conservador
com a atitude em relação às mudanças políticas chamada de conservadora (junto
com outras como reacionários, progressistas e radicais). O conservador neste
último sentido busca manter a situação política do jeito que está,
independentemente do conjunto de ideias a que se aplica. É um termo normalmente
aplicável a qualquer pensamento político que esteja no poder. Um socialista ou
um liberal que
esteja governando pode ser conservador nesse sentido, pois deseja manter-se no
poder e almeja a continuação de suas políticas. Um revolucionário torna-se um
conservador depois do sucesso de sua revolução.
O conservadorismo que será abordado aqui é aquele que existe
no Brasil e tem diversas semelhanças com o conservadorismo ocidental existente
na América Latina, na América do Norte e na Europa, pois todos eles têm como
base a doutrina cristã e a adoção, em maior ou menor grau, das ideias políticas
liberais. Mas é importante entender que mesmo o conservadorismo ocidental
possui muitas variantes e é difícil identificar um posicionamento político
específico. Partidos políticos conservadores podem até ter opiniões divergentes
entre si sobre algumas questões.
VALORES CONSERVADORES
De todo modo, é possível determinar algumas características
fundamentais do pensamento conservador ocidental. O conservadorismo tem como
seus principais valores a liberdade e a ordem, especialmente a
liberdade política e econômica e a ordem social e moral. O conservador acredita
que há uma ordem moral duradoura e transcendente, que no caso do
conservadorismo ocidental é baseada na doutrina cristã e tem na religião a sua
base. O conservadorismo valoriza a diversidade típica do individualismo e
rejeita a igualdade como um objetivo da política. O conservador, assim como o
libertário, entende que a igualdade político-jurídica é suficiente
para garantir a igualdade necessária entre as pessoas. Qualquer desigualdade
material ou de resultado é consequência inevitável das diferenças naturais
entre os indivíduos, de seus esforços e de suas decisões.
Na esfera política, o conservador procura preservar as
instituições políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do tempo e
são fruto dos usos, costumes e tradições. O conservadorismo entende que as
mudanças e o progresso são necessários para manter uma sociedade saudável, mas
essas mudanças devem ser cautelosas e graduais. Assim, a política do
conservador é a política da prudência, sempre preferindo manter e melhorar as
instituições estáveis e testadas do que tentar rupturas para implantar modelos
de sociedade e instituições advindas da razão humana. Essa postura coloca o
pensamento conservador em conflito com ideologias essencialmente reformistas,
que almejam criar uma sociedade “perfeita” pelo uso da política. Para o
conservador, a política é a “arte do possível” e não um meio para se chegar a
uma sociedade utópica.
Nas esferas social e moral, o conservador defende a
manutenção dos usos, costumes e convenções, além de uma estrutura social e
hierárquica tradicional. Na cultura, o conservadorismo valoriza as
manifestações locais e uma identidade nacional. Nessas esferas, os
conservadores são coletivistas, pois entendem que toda a comunidade deve adotar
certos padrões de comportamento e certos valores para garantir uma coesão
social e a identificação dos indivíduos com a comunidade.
CONSERVADORISMO NA ECONOMIA
O conservadorismo defende o individualismo na esfera
econômica. A defesa da propriedade privada também é vista como uma questão
intimamente ligada à liberdade, pois não é possível ser livre se os meios de
sobrevivência de um indivíduo estão nas mãos de outros, dos quais acaba se
tornando dependente.
Entretanto, a defesa de uma economia de livre mercado não é
assunto de consenso entre os conservadores de vários países do mundo, inclusive
os brasileiros. Mesmo os conservadores que defendem a globalização e a abertura
dos mercados ao capital internacional tentam manter essa integração somente no
âmbito econômico e financeiro, protegendo a cultura e a identidade nacionais de
influências externas. Mas, como o conservadorismo costuma ter fortes traços
de nacionalismo, as ideias econômicas acabam sendo influenciadas e, assim,
boa parte dos conservadores nacionais prefere políticas econômicas
desenvolvimentistas, nacionalistas e protecionistas. Esse fato não impede que
políticos conservadores sejam até hoje chamados de neoliberais na América
Latina, o que não é uma designação correta na maioria dos casos, visto que
muitos conservadores advogam políticas intervencionistas no âmbito econômico.
CRÍTICAS AO CONSERVADORISMO
A crítica mais comum ao conservadorismo é a sua ideia de que
toda a sociedade deve acatar o código moral e a estrutura social
tradicionais, o que é uma visão conflituosa com as ideias progressistas. Para
os seus críticos, é uma contradição o conservadorismo defender indivíduos
autônomos na esfera econômica enquanto defende a aceitação de padrões na
esfera social e moral. Outra crítica comum ao conservadorismo é sua rejeição
ao multiculturalismo e ao cosmopolismo cultural, comuns nos grandes
centros urbanos. Para o conservador, uma cultura local ou nacional
compartilhada por todos os membros da sociedade é uma condição necessária para
criar coesão social e espírito de comunidade.
Para entender: multiculturalismo normalmente se refere
a casos em que culturas distintas convivem no mesmo espaço, o que é
diferente das culturas formadas pelo sincretismo de diversas fontes, como a
cultura brasileira, e que costuma ser designado como um interculturalismo.
Como o Brasil sempre teve um sincretismo cultural e religioso muito forte, o
multiculturalismo – culturas muito diferentes convivendo no mesmo espaço – não
é muito comum por aqui. No Brasil, são mais comuns as culturas formadas pela
mistura de diversas influências e que acabam originando a cultura local e
os usos e costumes da sociedade, que são, portanto, parte do que os
conservadores defendem como a cultura da sociedade brasileira.
Na esfera política, o principal embate entre os conservadores
e seus adversários ocorre em torno do valor da igualdade. Os
conservadores, assim como os liberais, elogiam a diversidade e entendem que não
é papel do Estado promover políticas igualitárias para além da igualdade
político-jurídica. Mas os seus opositores argumentam que não basta promover uma
igualdade político-jurídica de cunho formal se esta não se concretiza pela
igualdade material e de resultados.
Na mesma linha de pensamento, os conservadores entendem que a
assistência estatal deve limitar-se somente aos que realmente precisam dela e
não deve se estender a toda a vida das pessoas, como é proposto pelo
Estado do Bem-Estar Social, o que atrai as críticas daqueles que entendem que o
Estado deve prover uma rede de segurança aos cidadãos durante todas as fases da
vida e que cubra um grande leque de situações.
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