O libertarianismo é uma ideologia política que tem
a liberdade como seu principal valor e objetivo político. Para os
libertários, o objetivo da política deve ser maximizar a autonomia e a
liberdade de escolha, não sendo função do Estado promover a ordem ou a
igualdade. Os libertários tentam minimizar a legitimidade de qualquer
instituição que tenha algum poder coercitivo sobre as pessoas e limitem o
julgamento individual. O libertarianismo é como um liberalismo radical ou
“turbinado”, mas que – diferentemente da anarquia – ainda reconhece a
necessidade da existência de um Estado para exercer um mínimo de funções, como
estabelecer e executar um conjunto mínimo de leis, proteger a vida e a
propriedade. Como exemplo, os libertários aceitam a ideia de o Estado impor
regras de trânsito, mas não aceitam leis impondo o uso de cintos de segurança
ou de capacetes. Nesse contexto, o libertarianismo acolhe bem a ideia da minarquia,
ou seja, do Estado mínimo.
No entanto, é importante entender que o libertarianismo –
assim como a anarquia – é uma ideologia que existe tanto na direita
quanto na esquerda. Por isso, o termo “libertarianismo” acaba sendo usado
como uma expressão guarda-chuva para inúmeras filosofias políticas. Os
libertários da esquerda tentam associar de diversas formas o socialismo com os
ideais de liberdade e de abolição de instituições autoritárias, enquanto os
libertários de direita advogam o livre mercado e a associação voluntária de
indivíduos. Na prática o libertarianismo de direita, defensor do capitalismo
“laissez-faire”, é o mais presente no discurso político e aquele que tem mais
seguidores, especialmente nos Estados Unidos da América, onde se desenvolveu
com bastante força no século XX. É este o libertarianismo que será abordado
daqui para frente.
LIBERALISMO E LIBERTARIANISMO: DIFERENÇAS
É importante não confundir libertarianismo com liberalismo.
A maioria dos liberais não tem problemas com alguma intervenção do Estado na
economia e nem defenderia um capitalismo laissez-faire em sua versão
mais pura, além de não se opor ao Estado estabelecer um nível considerado
adequado de ordem. Para os liberais, a liberdade é um valor necessário para
atingir outros objetivos, enquanto que para os libertários a liberdade é o
objetivo em si.
O QUE DEFENDEM OS LIBERTÁRIOS?
Na esfera econômica, os libertários de direita defendem um
capitalismo do tipo laissez-faire e se opõem a qualquer interferência
do Estado na economia. Por outro lado, defendem a ação do Estado para
garantir os direitos de propriedade. Para os libertários, a economia deve ser
baseada na associação voluntária de pessoas e não haveria a necessidade de uma
entidade centralizadora para coordená-la. Na esfera social, os libertários
valorizam características pessoais como a autossuficiência e a independência, e
entendem que as pessoas devem andar com seus próprios pés e receberem as
recompensas por seus esforços individuais. Assim, eles se opõem a qualquer tipo
de programa social, mas o fazem mais por princípio do que pelos custos que eles
geram para a sociedade por meio de impostos. Eles criticam a tendência das
pessoas em aceitar trocar a própria independência por “direitos” providos pelo
Estado. Para os libertários, ajudar os necessitados deve ser uma escolha
individual e não uma imposição de uma instituição coercitiva.
CRÍTICAS AO LIBERTARIANISMO
A primeira crítica ao libertarianismo é ser uma ideologia que
tenta implantar uma visão de mundo teórica pelo uso da política. Os seus
críticos observam que se uma sociedade libertária fosse possível, existiria
pelo menos algum país no mundo com um Estado mínimo, com economia livre, sem
serviços públicos básicos, sem imposição de limites morais e de uma estrutura
social. O libertarianismo também é criticado por buscar uma liberdade abstrata
que nunca existiu em nenhuma sociedade, nem mesmo nas mais primitivas.
Os críticos argumentam que a busca por uma liberdade fora de
qualquer tipo de ordem coloca em risco a própria liberdade e tende a acabar em
despotismo. O argumento é que, enquanto os libertários acreditam que as pessoas
essencialmente têm uma natureza boa e benevolente (assim como os socialistas
acreditam), a história mostra que o ser humano tem muitos defeitos e vícios.
Como as pessoas são naturalmente diferentes, sempre haverá os mais fortes e
mais inteligentes, que tentarão dominar os outros ou criar vantagens para si;
por isso, nem sempre a associação voluntária de indivíduos funcionaria.
Do ponto de vista econômico, o capitalismo laissez-faire defendido
pelo libertarianismo e baseado na associação voluntária de indivíduos seria
inviável em economias grandes e complexas como as atuais, que exigem algum
nível de coordenação de uma entidade centralizada para funcionar
eficientemente. Nesse sentido, a economia sem nenhuma supervisão do Estado se
provaria menos eficiente.
Outra crítica ao libertarianismo é que neste sistema não há
uma solução proposta para problemas ambientais. Neste modelo, a pequena
abrangência do poder do Estado tornaria inviável a administração das externalidades
negativas – efeitos negativos sobre toda a sociedade por uma atividade
privada, como a poluição gerada pelos carros ou por uma fábrica –,
principalmente relacionadas ao meio ambiente e que dificilmente seriam
resolvidas pelo setor privado. Além disso, a falta de uma regulação sobre o uso
dos recursos naturais poderia levar ao seu abuso.
Nas esferas social e moral, o libertarianismo tem
divergências inconciliáveis tanto com a social democracia quanto com o
conservadorismo. Enquanto os conservadores entendem que o Estado deve preservar
uma base moral e uma estrutura social que levariam as pessoas a terem um senso
de comunidade, os libertários entendem que a imposição de um código moral e
social a toda a sociedade é algo inaceitável, mesmo ao custo de uma
identificação mais fraca dos indivíduos com a comunidade. Neste contexto, o
libertarianismo aceita bem as ideias progressistas – a exemplo da social
democracia – embora não aceite a ação do Estado como promotor desses ideais. Já
os socialistas criticam a ideia de que a ajuda às pessoas em necessidade fique
dependente da caridade e da boa vontade dos indivíduos.
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