Soros é o último suspiro do
establishment
O multimilionário George Soros, o principal
financiador de todas as causas progressistas
ao redor do mundo, está em campanha aberta contra as redes sociais. Em um artigo para o jornal britânico The Guardian,
que vem causando grande repercussão, ele alertou que a sociedade aberta corre
perigo por causa das redes sociais.
O argumento de Soros é, essencialmente,
o seguinte:
a) as redes sociais estão sendo
monopolizadas por poucas e grandes empresas, como Google e Facebook;
b) tornou-se extremamente simples para
essas plataformas utilizar seus enormes volumes de informação para manipular
seus usuários;
c) os usuários podem ser manipulados
pelas redes não só em relação a suas preferências comerciais, como também em
relação a suas preferências políticas;
d) esta capacidade de manipulação
política pode se tornar especialmente danosa caso tais "monopólios"
privados se aliem a estados autoritários para sabotar os valores das sociedades
abertas ocidentais;
e) exatamente por tudo isso, os estados
democráticos devem destruir as plataformas das redes sociais mediante impostos
e regulações asfixiantes.
Uma parte do diagnóstico de Soros até
está correta: as redes sociais de fato têm a capacidade de influenciar
politicamente seus usuários e, consequentemente, de torná-los instrumentos de
estados autoritários que querem insuflar sua propaganda com o propósito de impor
sua ideologia específica, o que pode até destruir as bases da convivência
pacífica. Desconsiderar a existência deste perigo seria ingênuo e até
desonesto.
No entanto, é igualmente ingênuo e
desonesto acreditar — como faz Soros — que estes perigos podem ser resolvidos
por meio de uma canetada que outorgue aos "estados democráticos" (na
prática, apenas aqueles aprovados por Soros) a competência de controlar as
plataformas das redes sociais.
Com efeito, tal ideia não é apenas
ingênua e desonesta: ela é extremamente ameaçadora.
Problemas elementares
Soros diz temer uma aliança entre
governos autoritários e os grandes "monopólios"[1] das
redes sociais, mas, ao mesmo tempo, defende entregar o controle das redes
sociais a outros governos — desde que sejam "democráticos".
Haverá aqueles que não vêem contradição
— ou mesmo contra-indicação — nenhuma nessas sugestões: afinal, dirão eles, se
as redes sociais forem administradas pelos governos e forem manipuladas a favor
da democracia, então a sociedade aberta poderia até mesmo sair reforçada. Ou,
em outras palavras, se nós somos bons e morais, não há o que temer em utilizar
nosso poder para impor o bem perante o mal.
Por razões elementares, esta tese é
totalmente problemática.
Primeiro, comecemos pelo mais básico de
tudo: o que ocorrerá se, após tomarem o controle das redes sociais, os governos
democráticos se tornarem autoritários? Neste caso, a principal proposta de
Soros para combater o mal irá se converter em sua principal força-motriz:
querendo vetar a influência de governos autoritários sobre as redes sociais,
Soros estará lhes entregando o poder em uma bandeja de prata.
Mas qual a probabilidade de um governo
democrático se tornar autoritário ou quase-autoritário? Enorme. De um lado, há
o explícito exemplo da Venezuela (e, em menor grau, de Equador e Bolívia). De
outro, da perspectiva do próprio Soros, governos como o de Trump e
o de Viktor
Orbán (Hungria) seriam
quase-autoritários. E há também o exemplo da França, que quase foi para Marine
Le Pen, de quem Soros
é inimigo declarado.
Sendo assim, a pergunta inevitável é:
por acaso Soros ficaria entusiasmado se Trump, Orbán ou Le Pen passassem a
controlar o Facebook e o Google? É certo que não. No entanto, é exatamente isso
o que ele está propondo ao defender que o estado controle as redes sociais.
A segunda razão por que esta tese é
insensata: como determinar quais ideologias o governo deve tolerar em seu
controle das redes sociais? Se o estado irá utilizar as plataformas das redes
sociais para impor 'valores corretos' aos cidadãos, será o próprio governo quem
irá estabelecer a fronteira entre os valores corretos e os incorretos.
É certo que Soros — progressista
inflexível — tem sua opinião sobre quais são esses valores corretos. Com
efeito, é até mesmo provável que ele tenha sua opinião sobre o quanto as
pessoas podem se desviar desses valores corretos sem que a sociedade aberta se
desmorone. Porém, banir de todas as redes sociais aqueles valores que o governo
considere disfuncionais equivale a instaurar uma censura digital.
Além dos vários e óbvios perigos
derivados de se outorgar ao governo o poder de censurar aquelas idéias que lhe
são incômodas, resta a pergunta: como possibilitar um pensamento
verdadeiramente crítico quando certos valores (no caso, os progressistas) são
decretados como intocáveis ou inquestionáveis?
Se Soros estivesse, junto a Obama, no
controle das redes sociais nos EUA, teria ele dado algum tipo de cobertura
midiática a Trump ou teria distorcido as redes em favor de Hillary Clinton (de quem
ele é amigo fiel)? E por que deveríamos supor que todas
as idéias e propostas de Hillary eram preferíveis às de Trump?
Não há espaço para preferir
honestamente alguém como Trump em relação a alguém como Hillary? Em que medida
um governo democrático com poder de vetar várias opções políticas não irá se
converter em um governo autoritário?
Em definitivo, na mais benevolente das
hipóteses, George Soros erra ao, de maneira bem intencionada, querer propor um
maior controle governamental sobre as redes sociais. Já na pior das hipóteses —
que é a mais provável —, ele quer alimentar um alarmismo anti-redes sociais com
o intuito de legitimar que os governos as controlem e as utilizem para
aprofundar sua agenda progressista.
A real intenção
É fato que as redes sociais, ao se transformarem
em meios de comunicação em massa e para as massas, se transformaram também em
potenciais meios de manipulação das massas. No entanto, no que isso difere da
grande mídia?
As redes sociais são hoje o que já
foram os grandes jornais, o rádio e a televisão. No entanto, diferentemente do
que ocorreu a essas outras tecnologias, o custo para o usuário de uma rede
social é extremamente baixo: ele pode mudar de meio de comunicação, recorrer
simultaneamente a vários meios de comunicação, ou até mesmo se tornar ele
próprio um meio de comunicação — e tudo isso a um custo quase nulo.
E a verdade é que, mesmo sendo
suscetíveis a manipulações, as redes sociais atualmente proporcionam ao cidadão
comum muito mais armas para contra-atacar o risco de manipulação das notícias
do que jamais proporcionaram a imprensa escrita, o rádio e as televisões.
Sendo assim, então de onde vem este
atual pânico em relação às redes sociais? Dado que o eleitor sempre esteve à
mercê da manipulação dos grandes meios de comunicação, e dado que a internet
proporciona ao cidadão comum muito mais armas para contra-atacar essa
manipulação do que jamais proporcionaram os outros meios de comunicação, então
por que tantas vozes influentes estão gritando contra as redes sociais, e
exatamente com a desculpa de ajudar ao cidadão comum?
É fácil: porque os meios de comunicação
tradicionais eram muito mais facilmente controláveis e manipuláveis pelos
governos. E é esse arranjo que Soros quer recriar.
Ninguém em sã consciência pode dizer
que a mídia tradicional sempre foi de uma imparcialidade e ponderação
inflexíveis, e que jamais espalhou notícias falsas (as 'fake news'). Ao
contrário: a mídia tradicional sempre foi claramente percebida pela população
como um meio alinhado aos interesses dos governantes da vez.
Logo, o estridente ataque de Soros às
redes sociais busca reverter exatamente isso: ele quer recolocar as
descentralizadas redes sociais sob as ordens do estado para, assim,
restabelecer seu controle político sobre os meios de comunicação — e, com isso,
tornar dominante o status quo progressista e social-democrata que ele sempre
financiou.
[1] O termo 'monopólio' está entre aspas porque
não há monopólio nenhum neste setor. Não há nenhuma regulação estatal proibindo
o surgimento de redes sociais concorrentes. A proibição estatal à concorrência
é a definição precípua de monopólio
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