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Bom, você vai atrás da onde tem dinheiro e oportunidades não é? E nesse exercício, o contraditório é o fato de que muitos paulistas conservadores que odeiam os nordestinos, dependem deles para ter limpas as mesas em que eles derrubam café nos bairros de classe média que moram e trabalham. Mas o mais interessante ainda nisso, é que eles em grande parte serão tratados com a mesma indiferença e xenofobia em diversos países que desejam migrar, terminando por também limpar as mesas de gringos engravatados ou fritar ovos com bacon para os que desejam tomar café da manhã.
O mesmo exercício ocorre em outros países miscigenados como o Brasil, como os Estados Unidos, praticamente construídos por mexicanos, e essa história se torna mais curiosa quando passamos a saber da existência da Guerra Mexicano-Americana no século XIX. Quer dizer, além de ter metade de seu território original tomado pelos EUA no século retrasado, grande parte dos mexicanos são rotulados como forasteiros fazendo o trabalho braçal que os americanos nunca fariam, desde de um café até a construção civil. E um bom exercício para os dois lugares citados é imaginar o funcionamento deles sem os "ilegais e forasteiros" antes de acusarem de serem ladrões de empregos.
Essa pobreza é prato cheio para o capitalismo selvagem. Aqui no Brasil mesmo damos de cara com propagandas que oferecem ganhos inacreditáveis trabalhando em casa "sem CLT e sem chefe" e em revendedores de produtos de beleza ou suplementos alimentares. Presente em 98 países, a Herbalife ganha destaque através da geração de ganhos em pouco tempo conquistando pessoas desesperadas que realmente precisam disso. Em suma, do "sonho americano".
"Betting On Zero" é um documentário que denuncia o que de acordo com a legislação vigente em vários países é o esquema de pirâmide que a Herbalife utiliza, um jogo perfeito de marketing que vive da receita que não vem de revendas e sim da quantidade de pessoas próximas que você recruta.
Os números são impiedosos, 95% das pessoas que abrem o "clube" não lucram absolutamente nada graças ao sistema piramidal, que matematicamente deixa claro que seria preciso que metade da população da terra revendesse o produto. Assim os lucros ficam nas promessas marketeiras das pessoas que deram origem ao negócio e que vendem a oportunidade as pessoas mais vulneráveis, consequentemente sendo relegadas a uma decisão entre a moral e a sobrevivência que normalmente demoram meses para se dar conta de que foram ludibriadas.
O documentário produzido por Ted Braun é bem elucidativo e busca ponderar os dois lados da história.
Temos Bill Ackman de um lado, que é o investidor que vive uma saga contra a Herbalife denunciando a injustiça do sistema a todos que podem, acusando a empresa de se aproveitar de classes e países em desenvolvimento para expandir rapidamente seus lucros; e de outro o CEO (mais bem pago do mundo) Micheal O. Johnson. que em contrapartida questiona as próprias motivações de Ackman, homem que investiu cerca de US$ 1 bilhão no fracasso da Herbalife e faturaria horrores com a sua potencial quebra - apesar de ele prometer de pés juntos doaria toda essa fortuna que lucraria às vítimas da corporação
Premiado com uma menção honrosa no festival de Tribeca como melhor documentário investigativo, a obra foi alvo de polêmica e sofreu boicote em diversos cinemas dos EUA por causa da corporação natureba, porém, não deixou de ser um dos documentários mais vistos no iTunes e agora da Netflix.
Felizmente temos a internet e o streaming para nos salvar dos executivos.
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